A arte de desacelerar.

Em consulta surge, muitas vezes, a ideia de que o tempo passa a “voar”, que o relógio da sociedade de hoje anda a anos-luz do de antigamente. O tique-taque é exatamente o mesmo, mas a perceção que se tem dele é de que salta horas sem nos apercebermos – ou, noutras alturas, que cinco minutos parecem uns largos quarenta.

Nestes momentos falamos do nosso relógio interno cuja velocidade depende do contexto, sociedade, das pessoas que estão ao nosso lado e dos estilos de vida que adotamos. A título de exemplo, é curioso como o tempo Além-Tejo é completamente diferente do resto do país. Esta é uma diferença que é sobretudo notória para quem passa do ritmo de uma grande cidade para zonas mais rurais. Assim que se atravessa o Tejo, a perceção é a de que se entra num portal de controlo do tempo e tudo passa mais devagar; que o corpo é travado a fundo e o tique-taque fica preguiçoso. Somos os mesmos, com as mesmas responsabilidades, mas há algo biológico que parece gritar: “Abranda… Calma”.

Aqui torna-se ainda mais flagrante o ritmo incessante da cidade, o stress e pressão constantes e a poluição da produtividade e da rentabilidade a que estamos expostos, até porque “parar é morrer”, dizem. Será que assim o é?

Eu diria que parar é, muitas vezes, o reaprender do viver – sempre numa lógica do “utilize q.b.”; sair do ram-ram dos pilotos automáticos a que estamos altamente vinculados, e dar o salto para o plano da consciência. O Mindfulness é fulcral neste processo, porque obriga a estar no aqui e no agora, quando as agendas nos incitam a viver dois meses à frente e os nossos arrependimentos, medos e culpas meses e anos atrás. Em consulta, partilha-se com frequência: “Que engraçado, nunca tinha PARADO para pensar nisso”. A verdade é que a raiz de grande parte dos problemas é mesmo esta: falta-nos parar mais vezes, estar mais em contacto connosco e com aquilo que nos rodeia, no hoje.

Uma coisa é certa: o tique-taque é igual para todos. Cabe a cada um entender quando e como vale a pena (des)acelerá-lo, até porque as “coisas boas acabam depressa!”

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