A depressão pós-parto é uma condição mais frequente e visível nas mães, mas desengane-se quem pensa que os pais não são afetados!
No artigo do mês de maio, escrito pela Dra. Vanessa Pinto, já enumerávamos os sintomas da depressão pós-parto da mãe – que não diferem assim tanto dos do pai. Os sintomas mais característicos, e que se prolongam por mais de duas semanas, são: tristeza intensa e persistente, sentimentos de culpa, perda de prazer em atividades outrora prazerosas, fadiga, perturbações do sono e do apetite, assim como ansiedade em relação a responsabilidades e cuidado da criança, desinvestimento emocional, entre outros.
Todavia, a vivência da depressão pós-parto pelo pai poderá ser influenciada pelos papéis de género associados ao que é ser pai, sem esquecer o “pano de fundo” do que é ser homem. Nas últimas décadas, a figura do pai tem evoluído para um participante ativo e envolvido em todas as dimensões do cuidado e educação dos filhos. Ainda assim, com frequência, o pai continua a ser visto de forma rígida com os papéis de sustento económico, disciplinador e “protetor” do sistema familiar. Devido a este estigma do “homem forte”, poderá ser mais difícil para estes de procurar ou encontrar espaços de apoio onde possam refletir e partilhar experiências, pelo que manifestam mais frequentemente sintomas como evitamento, irritabilidade, autocrítica, somatização, tensão e/ou violência conjugal, consumo de álcool e drogas.
Ainda que possa surgir de forma isolada, a existência de depressão pós-parto na companheira potencia a probabilidade de depressão pós-parto no pai. É mais provável que o pai apresente mais sintomas entre o terceiro e o sexto mês após o nascimento, quando, à partida, a mãe se encontra a recuperar deste quadro. Aí, os pais terão mais tempo e espaço para se focarem nas suas necessidades, logo que o cuidado do bebé passa a ser partilhado de forma mais equilibrada face à recuperação da companheira.
A depressão pós-parto paterna levanta obstáculos no estabelecimento de uma ligação afetiva à criança e favorece cenários de instabilidade na família. Para reduzir-se este risco a montante, importa estimular e valorizar a participação do pai nas dimensões de cuidado e responsabilidade da criança e desconstruir expectativas rígidas de papéis de género, retirando o pai do papel de “assistente” da mãe. Culturalmente, os homens são menos socializados e educados para desempenhar tarefas de cuidado, pelo que se recomenda o olhar atento e inclusivo nos espaços educativos, sociais e de saúde.
Importa, também, incentivar os pais e o restante sistema familiar à procura de apoio psicológico e/ou psiquiátrico em casos de suspeita de depressão pós-parto. Ser pai/mãe não é tarefa fácil, mas com a saúde mental comprometida mais difícil será! Olhemos de forma perspicaz para os pais, que muitas vezes sofrem em silêncio por vergonha, por desconhecimento ou… porque acham que têm de ser “fortes”.
Digo-vos que a força é cuidarmos de nós.