Começarei por assumir que o tema do qual vou falar não será novo para muitos dos leitores. De facto, o mindfulness é já muito conhecido e divulgado no Ocidente. No entanto, vale a pena começar por explicar o que é, pois muitas vezes este conceito surge deturpado.
O que é o Mindfulness?
O Mindfulness, também traduzido como Atenção Plena ou Consciência Plena, é “a consciência que emerge de se prestar atenção ao momento presente, intencionalmente e sem julgamento”. Esta definição é trazida por Jon Kabat-Zinn, médico e investigador na área do mindfulness e responsável pela sua maior divulgação no Ocidente. Efetivamente, o Mindfulness é central na filosofia budista que tem já milénios de existência. Como tal, mais do que uma técnica, como a meditação guiada, o mindfulness traz uma forma de ser e estar que nos ajuda a lidar com o fluxo da vida como ela é: acolhendo a nossa experiência de dor e sofrimento com menos resistência, e saboreando os bons momentos com menos apego.
Ajuda também desmistificar alguns mitos que existem sobre o mindfulness, e que muitas vezes nos impedem de começar a praticar:
- O mindfulness é não pensar em nada: a atividade da nossa mente é pensar, sendo que chegamos a produzir cerca de 17 000 pensamentos por dia. Por isso, é muito provável que, durante uma prática de mindfulness, surjam pensamentos. Se notar que isso lhe aconteceu, não significa que falhou. Significa que despertou, e tem agora uma oportunidade de voltar a dirigir a sua atenção ao momento presente.
- Com o mindfulness vou conseguir relaxar: isso pode acontecer, e é muito agradável e motiva à continuidade da prática. No entanto, esse não é o principal objetivo da prática de mindfulness. A prática consiste no treino da atenção para aumentar a consciência do momento presente, notando o fluxo de mudança momento a momento e acolhendo a nossa experiência tal como ela é.
- Com o mindfulness vou ficar resignado/a a tudo o que me acontece: a aceitação é uma atitude e, como tal, algo ativo. Não pressupõe que me resigne e desempodere de fazer escolhas.
Mas é quando estou consciente das coisas tal como elas são e as reconheço que posso escolher como lhes responder, em vez de lhes reagir em piloto automático. - Ficar quieto durante muito tempo é muito difícil para mim: qualquer pessoa pode praticar mindfulness, desde os mais pequenos aos mais idosos. Ainda que muitas das práticas requeiram uma postura de quietude, existem várias outras oportunidades de prestar atenção ao momento presente: a comer, a lavar os dentes, a tomar banho, a dar um passeio, a fazer exercício… basta um pouco de criatividade! Também é importante dedicar algum tempo para se tornar um hábito.
Mas o mais importante é que dedique o tempo que para si for possível e necessário. Alguns minutos por dia podem fazer toda a diferença!
Como posso utilizar o Mindfulness na minha vida?
O mindfulness tem sido amplamente estudado, com vários benefícios ao nível da redução de stress, ansiedade e depressão, bem como na dor crónica. A investigação também já demonstra como a prática continuada de mindfulness atua na produção de novos caminhos neuronais, contribuindo para uma flexibilidade cognitiva que nos ajuda no nosso desenvolvimento pessoal. Por isso, os seus princípios e técnicas podem ser combinados às terapias psicológicas, que é o caso das Terapias Cognitivo-Comportamentais de 3ª Geração.
Mas o ex-libris das Terapias baseadas no Mindfulness são os grupos terapêuticos, geralmente de 8 semanas, como o Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR).
Pessoalmente, vejo a prática de mindfulness como se fosse uma prática de “higiene mental”: tal como higienizamos os nossos dentes, higienizamos a nossa mente. É, assim, uma forma de autocuidado, que podemos adaptar ao nosso dia-a-dia da maneira que funcionar melhor para cada um de nós. Por isso, recomendo-o muito frequentemente aos meus clientes, ajudando-os nas suas dúvidas e dificuldades e, pontualmente, realizo workshops e formações onde dinamizo práticas de meditação.