Saúde mental em tempos de férias

O Verão traz consigo temperaturas altas, o sol a brilhar e um aroma a maresia que, dependendo do nosso estado de espírito, tanto podem afigurar um oásis como uma (ou mais uma) tormenta.
Convencionalmente associados às férias, estes meses abrem espaço para fazer uma pausa mas, em muitos casos, vêm enfatizar a impossibilidade ou dificuldade em abrandar o ritmo.
Habituados à exigência e adaptados à sobrecarga, será que já não sabemos como parar?

A pergunta pode parecer ridícula, para muitos em contagem decrescente para este momento, já planeado um vasto programa turístico, cultural e lúdico, para o qual os dias até parecem não chegar.
Também esses devem estar atentos, não vão incorrer no risco de terminar as férias mais cansados do que começaram, tal é a ânsia de “aproveitar o tempo perdido”. Para outros, exaustos do seu trabalho ou de circunstâncias adversas da sua vida, desalentados por quadros depressivos ou desgastados pela ansiedade, reunir energias para sair do sofá ou abrir a janela consubstancia, desde logo, um desafio maior.

O paradoxo entre a fantástica e idealizada época balnear e a tonalidade do seu humor e emoções pode até potenciar a tristeza, desmotivação e isolamento, criando um fosso cada vez maior entre as “cores” de fora e as de dentro.
Há também os, que, apegados à rotina, motivados por metas ou ambições e pressionados por necessidades e vontades várias – próprias ou alheias – ficam na ambivalência entre o desejo por um relaxamento pleno e o impulso imperioso para atualizar os emails ou verificar as chamadas que, virtualmente, poderão ter ficado por atender.
Medem-se forças entre os gostos e interesses pessoais, as expectativas e promessas familiares e sociais e o compromisso, cada vez mais vincado, que estabelecemos com as nossas obrigações profissionais.
De facto, ficar de férias pode não ser suficiente.
Recarregar baterias, recolher inspiração e renovar o ânimo exige equilíbrio nas nossas decisões, rigor e sensatez na introspeção sobre o que realmente nos sossega e a (re)conciliação com a forma como corre o nosso tempo, seja qual for a época.
O nosso estado interno correlaciona-se mútua e fortemente com a nossa vivência dos diferentes contextos e ambientes, e, se é certo que sentirmo-nos apaziguados e felizes nos faz perspetivar cada cenário como mais positivo, o contrário também é inevitável.
Assim, se o Verão tardar, chegar enevoado, frio, de alguma forma, inóspito ou correr morosa e soturnamente, é preciso que saibamos que é tão legítimo sentirmo-nos mal como em qualquer altura do calendário, e, essencialmente, que todos os timings são oportunos para procurar ajuda.
Afinal, a Saúde Mental não pode, nem deve, tirar férias.

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